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domingo, 25 de abril de 2010

Deixar de Ser o Outro


Até pouco tempo vivi o outro e sabe o que é ser o outro? É ser aquele que mim ensinaram a ser, mas que na verdade não sou eu; ser o outro é acreditar que temos a obrigação de passar a vida inteira pensando em como juntar dinheiro, para não morrer de fome na velhice. Deste modo tanto pensa e tanta faz planos que só descobre que está vivo, quando na verdade perceber que seus dias na terra estão terminando e isso, é tarde demais.
Eu sou o que qualquer um de nós é se escutar seu coração, ou seja, alguém que se deslumbra diante do mistério da vida e da morte, que enxerga os milagres do dia-a-dia, que se sente alegre e entusiasmado em tudo que faz. Mas o outro nessa história, é aquele que por medo de se decepcionar, não me permitia agir. Sei o quanto é verdade que existam sofrimentos, derrotas, frustrações, mas ninguém está isento destas realidades. Por isso, é melhor perder alguns combates nas lutas diárias tentando conquistar seus objetivos, que ser derrotado sem ao menos saber por que se esta lutando.
Desta forma acordei e decidi ser realmente quem sempre deveria ter sido, ou seja, eu mesmo. Por conseguinte, o outro ficou ali no meu quarto, mim olhando, mas sem ter qualquer domínio sobre mim, embora tenha mim assustado por muito tempo, tentando, sobretudo mim privar de olhar sem medo o futuro.
E foi é somente desta forma, que no momento no qual decidi não ser mais este outro, que verdadeiramente pude sentir a vida fluir, as escamas caírem dos olhos e enxerguei as coisas com um olhar de liberdade e mais ainda com a beleza e os encantos de quem vive a experiência única de ser ele próprio.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Existir é bem mais que Nascer e Morrer.

Existir é bem mais que Nascer e Morrer

Pensadores como Heráclito, escreveram: “vida é muito breve para ser insignificante”, pois bem gosto de pensar nesta idéia, e por isso, começo pensar que podemos viver para além de nossa limitada existência, quando tomamos consciência de que só fazendo de nossas atitudes, bons andaimes para ascender ao eterno, é que realmente estamos vivendo, pois do contrario, só teremos passado nesta vida, como viajantes que não souberam apreciar as maravilhas que ela oferece. Sei que para muitos o viver é um constante sofrer, mas para outros transformar este sofrer em escola de bom aprendizado, é contemplar a vida como um dom de prazeres imperecíveis, e por isso sabem se encantar com as coisas mais simples como tomar um banho na chuva, ou mesmo desfrutar da companhia de um amigo.
Nada é mais proveitoso que deitar depois de um longo dia e sentir-se realizado e realizador de empreendimentos que por um só milésimo de segundos tornou a vida de outros mais alegres e menos tristes. É por demais deleitoso ver em noites de lua ver que ela vira sol ao amanhecer, tocar o chão com os pés descalços e sentir que somos parte desta terra, que muitos em sua solidão e vaidade evitam pisar. Olhar o mundo e seus encantos com um olhar místico é perceber como o poeta, musica e letra nas folhas das grandes arvores açoitadas pelo vento. O silêncio quebrado pelo ronco dos trovões mim remetem a pensar na grandeza das coisas que estão acima de minha cabeça, o germinar de uma semente lançada ao chão mim faz sentir que a vida brota de onde menos imaginamos.
E o sol que a cada dia volta pela manhã e as vai ao entardecer, renovando minha esperança de um voltar sempre é sem dúvidas, um sinal de que estamos sendo contemplados com a possibilidade de recomeçar mais uma vez nossa jornada.
Quando alguém em sua limitada razão se lamentar de que esta vivendo um suplício, pense que viver é a cada instante se renovar, como fazem as flores a cada primavera, aquecido pela presença dos seus íntimos, pelo afago da pessoa amada, pela carinhosa presença de seus familiares e mais ainda pela gentil providencia da natureza que gratuitamente produz seu sustento.
Se a noite te assusta, concebe a idéia de que esta veio para recuperar as forças que te foram tiradas pelo fardo de teus dias, sempre me busca do pão, pois como bem disse o salmista, não é justo retardar vosso descanso para buscar o pão sofrido, que o Senhor dá aos seus enquanto dormem. Pois bem saibas que aquele que te fez, também cuida de te, e que por mais longa que seja a meta da chegada, a jornada é cheia de oportunidades para que possamos viver e não apenas conviver entre aqueles, que a vida se incumbiu te presentear-nos,pois, é maravilhoso olhar para traz e perceber que nada veio do acaso e se foi sem fazer sentido. Que ninguém se permita viver dilacerado entre o ontem, nem no amanhã, esquecendo-se que deixou de viver o presente que é nosso maior dom. 

domingo, 18 de abril de 2010

Existindo para o Amor

Hoje ao acordar refletia e depois de idas e vindas com meus pensamentos, olhei na copa de uma arvore e vi que ali havia um pássaro, o qual, mesmo em sua solidão entoava uma canção harmoniosa, ou seria um clamor por atenção que irrompia o silencio. Quis entendê-lo e logo mim dei conta de que minha racionalidade estava fadada a ver as coisas de uma maneira estéril. Pois como imaginar um grande artista que sobe ao palco sem ter publico que lhe possa aplaudir e gritar seu nome entre aplausos e elogios?
          Pois bem, pensando um pouco mais, fui descobrindo que sempre existirão coisas, que sempre serão inacessíveis aos que não sabem amar. Porque assim como aquele pássaro, que entoa sua canção, mesmo sem exigir uma platéia, fomos criados para amar, ainda que sem desejar ser correspondidos, e se por algum momento disso esquecermos e por infelicidade nos esquecermos de amar assim, já não seremos mais úteis, nem a nós mesmos nem a este mundo que nos acolheu, pois assim como o pássaro em sua livre natureza, devemos também nós amar em plena liberdade, visto que amar é gratuidade e por ser isso mesmo amar, nada devemos exigir em troca, porque do contrario, deixa de ser amor. Por conseguinte, jamais nos cansemos de amar, pois a solidão e o silencio fecunda o amor e amadurece os sentimentos, tornando-os mais belos e verdadeiros.



Eu e o Rio

            Neste opúsculo sou tentado a refletir que o rio é tão semelhante a mim, tanto em natureza quanto em essência. Assim concebo pelo fato de termos um inicio, e desde esse inicio nos movemos em direção ao fim. É pensando desse modo que dou vida e forma à idéia segundo a qual, embora almejemos diferentes coisas segundo nossas distintas naturezas, essas coisas são as mesmas em essência. O rio, assim como eu, nasceu pequeno e singelo, foi crescendo, adquirindo tamanho e formas definidas, conquistando espaços, ganhando respeito e admiração. Assim, aos poucos eu e o rio vamos superando os primeiros obstáculos. Eu, em minha peregrinação terrestre, vou deixando minhas marcas, firmando meu nome, construindo minha identidade. Assim como o rio em seu curso, somos causa de alegria para muitos, e de tristeza também. Muitos se aproximam de nós para restaurar suas forças, compartilhar sofrimentos, ambos somos por vezes causa de inspiração para o poeta, objeto de estudo para o cientista, e até o filosofo se ocupa em pensar sobre nós. Desse modo, ainda que distante que seja o percurso e demorada a chegada tanto do rio quanto minha, vivemos buscando atingir nosso destino. Tanto um quanto o outro geramos vida e também a eliminamos, ora cuidamos da vida, ora a ferimos, somos ora queridos ora desprezados, somos tanto dóceis como vorazes, tanto calmos como agitados, tanto fortes como fracos, tanto belos como feios, mas ambos sabemos que só teremos cumprido nossa missão quando por fim atingirmos nossos destinos. Dizendo de outro modo: quando tivermos atingido o fim para o qual fomos feitos. No caso do rio, fundir-se ao mar. No meu caso, fundir-me ao amor. Só assim seremos lembrados e imortalizados pelos que souberam entender nossa essência, nossa natureza e desfrutar nossa presença. Eu e o rio, essência e natureza, no nascer e no morrer.